Tag: Controle climático | Blog
18/05/2020
,“Por que há tantos pintinhos morrendo na primeira semana”? Esta era a preocupação de um gerente de um incubatório de estágio único localizado na região sul do Brasil. O inverno estava rigoroso naquele ano (sim, mesmo em um país tropical é comum ocorrer temperatura abaixo de 100C), e eles estavam recebendo reclamações de mortalidade na primeira semana de 3-5%, chegando a 10% em alguns casos.
Com o objetivo de identificar a real causa da elevada mortalidade de primeira semana, eu realizei uma visita a essa planta e pude constatar que não havia nenhuma relação entre as salas de incubação/nascimento ou lotes/linhagens de matrizes. E ainda mais estranho: a elevada mortalidade ocorria em lotes tanto de machos como de fêmeas, mas não em ambos do mesmo nascimento. Naturalmente a minha primeira reação foi pensar que algo errado deveria estar acontecendo após a sexagem dos pintos. Ou talvez, o problema estaria no transporte? Porém o gerente me informou que já haviam feito essa investigação, e nenhuma relação foi encontrada com os caminhões/motoristas.
Após rastrear todos os procedimentos de manejo dos pintinhos depois da sexagem, percebeu-se que os piores casos eram referentes a lotes nascidos na sexta-feira, porém o alojamento era feito no sábado – ou seja, o lote passava a noite no incubatório. Contudo os registros da sala de pintos nestas datas não apresentavam nenhuma irregularidade: temperatura e umidade estavam dentro do recomendado.
Chegou o momento de verificar a sala de pintos, e mais uma vez os registros estavam dentro da normalidade. Mas... quando eu me aproximei do local de entrada de ar na sala, eu senti um arrepio de frio nos meus braços. Foi possível observar que os pintinhos estavam amontoados dentro das caixas. A medição da temperatura retal (101-1020F) confirmou que eles apresentavam hipotermia. A temperatura do ambiente em torno dessas caixas com somente pintinhos machos, era de apenas 190C.
As fêmeas desse mesmo lote estavam posicionadas no centro da sala, e apresentavam uma boa temperatura retal (104-1050F), com um ambiente de 250C ao redor das suas caixas. Ficou evidente que os dois grupos sexados estavam sendo mantidos em condições muito diferentes durante o tempo de espera até o momento do transporte, e nesta situação o lote de machos estava sendo prejudicado.
O sensor para manter a temperatura ambiental em 250C estava localizado no centro da sala. À medida que a sala recebia mais pintos, se fazia necessária um incremento na refrigeração, tornando o ambiente muito frio no local próximo à entrada de ar. O fato é que havia um fluxo de ar frio diretamente sobre as caixas de pintinhos posicionadas neste local.
Realizamos um teste improvisando funis de papelão para direcionar a entrada de ar frio para cima, evitando assim o direto fluxo de ar sobre os pintinhos. Algumas horas depois, quando medimos a temperatura do ambiente ao redor das caixas ali posicionadas, a condição do ar estava bem melhor, e isso foi confirmado também pela medição da temperatura retal dos pintinhos que subiu significativamente.
Na sequência o gerente da planta desenvolveu uma solução definitiva com a instalação de condutores de ar ajustáveis feitos em alumínio. Com essa medida as reclamações de alta mortalidade de campo no inverno cessaram.
Tiramos algumas preciosas lições dessa história. É de fundamental importância checar a temperatura em diferentes pontos da sala de pintos, sendo que jamais pode ocorrer um direto fluxo de ar frio sobre as aves. Se necessário, faça um desvio na direção do ar de entrada mais frio, para que ele seja misturado com o ar do ambiente mais quente. Não corra o risco de destruir todo o trabalho, e bons resultados obtidos durante o processo de incubação, por uma falta de cuidado com os pintinhos recém eclodidos.
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