Uma interpretação prática do “zero fisiológico” para o gerenciamento do incubatório

Tag: Manejo do ovo | Artigo

Escrito por Dr. Marleen Boerjan, 15/04/2016

Uma interpretação prática do “zero fisiológico” para o gerenciamento do incubatório

Os gerentes dos incubatórios frequentemente utilizam o termo “zero fisiológico” para se referir às temperaturas ideias para as condições de manejo e estoque de ovos nas granjas de matrizes (incluído o transporte) e também no incubatório.

Na granja, os ovos são resfriados após a postura e são transportados no mesmo dia ou estocados por alguns dias antes de serem transportados para o incubatório. No incubatório, os ovos são estocados durante diferentes períodos antes do carregamento das máquinas, dependendo da programação de incubação. Em ambas situações, os embriões necessitam ser preservados em ótimas condições, para minimizar ou idealmente evitar quaisquer efeitos adversos na eclodibilidade e qualidade do pintinho.

O desenvolvimento embrionário é reduzido e eventualmente é “interrompido” quando a temperatura cai abaixo do “zero fisiológico”, ou no ponto no qual a temperatura é baixa o suficiente para manter a atividade celular embrionária no mais reduzido nível, mas que este seja reversível. O embrião ainda possui o potencial de continuar o seu desenvolvimento se a temperatura for novamente aumentada. Por esta razão, o termo desenvolvimento “interrompido” é preferível do que o termo “desenvolvimento parado”.

Consequentemente, é aceito que o “zero fisiológico” não está restrito a uma temperatura específica (set point), mas a uma gama de temperaturas (12-20°C) dependendo do contexto do manejo dos ovos e período de estocagem. Isso também explica o porquê de diferentes valores de set points de “zero fisiológico” serem definidos na literatura.

A definição de “zero fisiológico” foi primeiramente introduzida por Edwards em 1902, como sendo a temperatura abaixo da qual não há nenhum desenvolvimento embrionário: 21 °C. Proudfoot (1969) revisou os termos de referência do “zero fisiológico” para incluir as temperaturas de estocagem de 11.5 a 21°C (In: Carter e Freeman, 1969). Mais recentemente, Fasenko (2007) apresentou o termo “diapausa embrionária” como uma alternativa para o tradicional “zero fisiológico”: uma definição atualizada devido ao conhecimento de que alguns processos celulares metabólicos continuam, mas alterações morfológicas mais bruscas (formato e estrutural) são interrompidas.

A diapausa embrionária tem sido descrita para várias espécies de vertebrados, incluído tartarugas, marsupiais e até alguns mamíferos tais como a corça. A diapausa embrionária, ou dormência embrionária, descreve um estágio no qual a atividade metabólica e divisão celular é reduzida ou interrompida – e pode ser considerado como uma estratégia para lidar com as condições ambientais temporariamente desfavoráveis.

Nas galinhas, o desenvolvimento embrionário é interrompido após a postura e resfriamento dos ovos até a temperatura da sala entre 22-25 °C. Durante ótimas condições de resfriamento (temperatura/sem corrente de ar), o embrião se desenvolve do estágio de gástrula IX-X (descrito por Eyal-Giladi, 1976) para o estágio XII-XIII (Gilbert, 2006).

A definição de zero fisiológico é restrita especificamente para os estágios XII-XIII de desenvolvimento. Se o embrião se desenvolveu até chegar está fase e o desenvolvimento do da raia primitiva já se iniciou, temperaturas reduzidas irão retardar o desenvolvimento embrionário e finalmente causar a morte ou mortalidade precoce do embrião. Isto pode explicar as maiores taxas de mortalidade precoce quando os ovos são mantidos por longos períodos nos ninhos (Fasenko, 1991, 1999) e o resfriamento ocorre de forma muito lenta.

Conselhos

  • Aceite que o zero fisiológico pode ser aplicado em uma faixa de temperaturas, de 12-20 °C, dependendo do contexto (na granja, durante o transporte ou o incubatório).
  • Tenha em mente que se os ovos são estocados entre 18-21°C, o desenvolvimento embrionário será retardado, mas não é totalmente parado.
  • Reduza as temperaturas de estocagem se os ovos forem estocados por mais do que sete dias.
  • Utilize o tratamento de temperatura pré-estocagem somente se for possível estocar os ovos a uma temperatura de 18-20°C imediatamente após o tratamento.
  • Defina um protocolo de gerenciamento chave para a monitoria e avaliação da temperatura e umidade relativa na sala de estocagem da granja de matriz, durante o transporte e no incubatório.
Condições climáticas recomendadas durante a estocagem dos ovos      
Tempo de estocagem Temperatura (°C/°F) Umidade Relativa* (%) Posição dos ovos
0-3 days 18-21 / 64.4 - 69.8 75 - 85 Ponta fina para baixo
4-7 days 15-17 / 59-62.6 75 - 85 Ponta fina para baixo
8-10 days 12-14 / 53.6-57.2 80 - 85 Ponta fina para baixo
more than 10 days 12-14 / 53.6-57.2 80 - 85 Ponta fina para cima 
ou alternar a posição (viragem) 
dos ovos a cada 24 horas. 

*A faixa da umidade relativa para os ovos estocados em bandejas de papelão é de 50 - 75%; o risco de desidratação é muito menor nesse tipo de bandeja e a ocorrência de bandejas com perda de estrutura devido à alta umidade relativa deve ser evitada.

Fonte: Manual de incubação Pas Reform 5.2 ou 6.0

Escrito por Dr. Marleen Boerjan