Medidas para reduzir o impacto do prolongado estoque de ovos incubáveis devido à Covid-19

Tag: Manejo do ovo | Artigo

Escrito por Gerd de Lange, 21/04/2020

Medidas para reduzir o impacto do prolongado estoque de ovos incubáveis devido à Covid-19

A atual pandemia de Covid-19 está causando transtornos generalizadas no mercado. Embora alguns países estejam sendo muito mais afetados do que outros, a demanda global por carne de frango caiu com o fechamento de restaurantes e cadeias de fast food. Alguns governos proibiram a importação de produtos avícolas para proteger o mercado interno de seus países, com isso as plantas de processamento estão pedindo uma redução de 15 a 25% no alojamento de pintinhos, na tentativa de estabilizar o mercado. Além disso, o fechamento de muitos mercados tradicionais de aves vivas, está causando um efeito dramático no setor avícola nos países menos desenvolvidos. 

Embora seja difícil prever a situação daqui a dez semanas (tempo que leva para que um ovo incubável seja posto e a carne de frango chegue ao mercado), vários incubatórios reduziram o número de ovos incubados, antecipando a situação. Para reduzir o fornecimento de ovos férteis ao incubatório, o abate mais cedo de lotes mais velhos pode ser uma opção. Não é nem preciso dizer que esse não é o momento de enviar ovos de cama para o incubatório, ou de ser pouco exigente com a classificação de ovos.

Quando ovos incubáveis são produzidos e enviados para o incubatório continuamente, cada dia de estocagem na sala de ovos aumenta a idade dos ovos. Isso poderá gerar um impacto negativo na eclodibilidade e na qualidade do pintinho produzido, quando esses ovos forem incubados. Este artigo oferece aos gerentes de incubatórios algumas medidas práticas para reduzir os efeitos negativos do prolongado armazenamento de ovos.

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Um olhar mais detalhado ao ovo recém posto

Um ovo fértil posto pela matriz reprodutora contém um embrião de 40,000–60,000 células já diferenciadas. No momento da ovoposição, o embrião está no estágio de desenvolvimento IX ou X (Eyal-Giladi e Kochav, 1976).  Como o ovo inicia o seu resfriamento a partir da mesma temperatura do corpo da galinha, a divisão celular e o seu desenvolvimento continuam enquanto a temperatura interna do ovo permanecer acima de 25 °C/77°F. Se o resfriamento ocorre muito rapidamente o embrião pode não atingir o estágio XII-XIII, que é o seu estágio de resistência. Idealmente o ovo deve ser resfriado gradualmente abaixo de 25°C/77°F durante um período de aproximadamente 6 horas. Quando é realizada a abertura de um ovo fresco, é possível reconhecer um embrião bem desenvolvido pelo típico formato de “rosquinha” (doughnut form): um círculo branco de 3.5–5 mm de diâmetro com um centro translucido sobre o saco vitelino. Quando o ovo é mantido abaixo desta temperatura, o embrião entra em um estado de dormência. O termo técnico para isto é ‘diapausa’ (Fasenko, 2007). Veja mais informações aqui.

O desenvolvimento embrionário apenas irá iniciar novamente quando a temperatura for incrementada para assim iniciar a incubação, ou se as condições de suporte durante a estocagem dos ovos forem precárias. Se o resfriamento dos ovos for muito lento após a postura, o embrião irá se desenvolver demais e a gastrulação irá começar; esses embriões não irão sobreviver ao período de armazenamento, nem mesmo por poucos dias sob boas condições.

Um efeito colateral do resfriamento dos ovos é a formação da câmara de ar. A casca é rígida e não encolhe, porém o conteúdo do ovo sim. O resfriamento causa uma pressão negativa dentro do ovo, e como resultado ocorre a entrada de ar através dos poros para neutralizar essa pressão. O ar trilha o caminho de menor resistência, logo entra em maior volume através da área mais arredondada do ovo, onde há muito mais poros do que na linha do equador ou na ponta mais fina do ovo.

Durante o resfriamento, e também durante os primeiros dias de estoque, ocorre difusão de CO2 através dos poros da casca do ovo para o ambiente, simplesmente porque a concentração de CO2 fora do ovo é cerca de 100 vezes menor do que a concentração presente dentro do ovo. Isso ocasiona um aumento do pH do albumen do inicial 7.6 para 9.2, enquanto o pH do saco vitelino é mantido constante em torno de 6.5. O embrião, que está situado entre o saco vitelino e o albúmen, fica exposto a esse gradiente, o qual é essencial para um apropriado desenvolvimento embrionário. A eliminação de CO2 a partir do ovo também é fundamental para tornar o albúmen espesso e gelatinoso mais liquefeito, o que se acredita ser um fator que aumenta a troca de gás do embrião, e por seguinte suporte de oxigênio para o embrião, durante o início da incubação. Ambas mudanças fazem parte do processo de preparo do ovo fértil para a incubação, conhecido como o período de adaptação. Este é o porquê dos ovos muito frescos não serem adequados para a incubação; para melhores resultados, é necessário de 1 a 2 dias de estocagem, sendo que para ovos de algumas linhagens de poedeiras pode ser preciso um período ainda maior.

As consequências do prolongado armazenamento de ovos são

  • Redução da qualidade interna dos ovos: albumina aquosa e membrana do saco vitelino mais fraca
  • Incremento da perda de peso do ovo devido à evaporação de água
  • Redução da viabilidade do embrião e, portanto, menor eclodibilidade
  • Redução da qualidade do pintinho produzido (especialmente por problemas de umbigo) e fortes indícios de pior desempenho na granja
  • Necessidade de aumento no tempo de incubação

O período de estocagem reduz a qualidade reduz a qualidade dos ovos incubáveis. À medida que o espessamento do albúmen é reduzido de denso para fluido, o último nível é se tornar muito aquoso. Nessa condição água é difundida do albúmen para o saco vitelino, o que pode formar manchas e tornar a membrana do saco vitelino mais fraca.

A água evapora para fora dos ovos, ocasionando a perda de peso dos ovos; o que pode ser visualizado com o auxílio de uma lanterna em uma sala escura. A câmara de ar gradualmente irá aumentar de tamanho.

A estocagem dos ovos também tem um impacto negativo sobre o embrião propriamente. À medida que aumenta o tempo de estoque, as células blastoderme irão degenerar e morrer, reduzindo a viabilidade do embrião. O efeito direto disso se tornará evidente quando os ovos são incubados; tanto a mortalidade embrionária inicial como a final serão mais altas, assim como a eclodibilidade será menor. Sendo assim, quanto maior for o período de estocagem dos ovos, mais significativo será o declínio da eclodibilidade. Os dados apresentados na Figura 1 foram coletados durante um período de 3 anos de 3 diferentes incubatórios na Holanda e representam um total de 511 ciclos reprodutivos (ou 24,234 incubações). Ao contrário do que normalmente muitos acreditam, os gráficos mostram que a eclodibilidade dos lotes de reprodutoras mais jovens é mais afetado por longa estocagem (8-14 dias) do que os lotes de reprodutoras mais velhas (menos 0.8 e 0.4 % por dia de estoque para os grupos de idade 25-30 e 51-60 semanas, respectivamente). Entretanto, a perda diária de eclodibilidade aumenta para os lotes de todas as idades, com o aumento no tempo de estocagem. Atente que perdas de 1-1.5% de eclosão por dia após o dia 7 de estocagem não são raras na prática. Observe na Figura 1 as perdas de eclosão diárias obtidas por lotes de diferentes idades.

Figure 1: Redução diária da eclodibilidade em relação a duração do estoque de ovos no incubatório, sem considerar o estoque de 1 a 4 dias na granja de matrizes (Yassin et al., 2008)

O armazenamento dos ovos também gera um impacto na qualidade dos pintos produzidos. Tipicamente, muito mais umbigos mal cicatrizados são observados em pintinhos nascidos de ovos estocados por períodos mais longos. Também existem fortes indicativos de que o peso do frango aos 7 dias é reduzido, o que pode dar uma previsão de um frango com menor peso no abate.

Concluindo, a estocagem torna o desenvolvimento embrionário mais lento durante a incubação, gerando assim a necessidade de aumento no tempo de incubação. Na prática, a regra de ouro que preconiza adicionar 1 hora no tempo de incubação para cada dia de estocagem após os 4 dias, funciona bem. Quando ovos com longo período de estocagem são incubados juntos, a incubadora deverá iniciar mais cedo. Porém, quando os ovos são mantidos estocados por diferente período (ex. 4-14 dias) e necessitam ser incubados juntos, isso definitivamente irá gerar uma ampla janela de nascimento.

Em resumo, o ideal é incubar ovos incubáveis 2-3 dias após a postura. Evite estocagem de ovos superior a 7 dias. Se for necessário estocar os ovos por mais de 10 dias, existem algumas medidas práticas disponíveis que ajudam a reduzir os efeitos negativo de um prolongado tempo de estoque de ovos.

Medidas práticas para minimizar o impacto do prolongado estoque de ovos incubáveis

Nas plantas onde o prolongamento do estoque de ovos (acima de 10 dias) é a única opção, a principal meta é manter o potencial de máxima eclodibilidade. Para tanto, é necessário preservar a qualidade do albúmen e do saco vitelino e, principalmente manter o máximo possível, a qualidade e vitalidade do embrião.

  • Crie ótimas condições de estocagem:
    • 12–14 °C/ 53.6–57.2 °F
    • 80–85 %RH
    • Busque uniformidade através da circulação de ar e mantendo os carros de incubação 10 distantes da parede
    • Evite o direto fluxo de ar dos resfriadores ou umidificadores sobre os ovos
    • Fique atento que pode ocorrer condensação na superfície dos ovos quando eles são levados para a sala de incubação ou para o pré-aquecimento
    • Considere que a redução de temperatura de uma sala de estocagem na granja de matrizes pode não ser uma boa ideia!
  • Se possível armazene os ovos posicionados com a ponta mais fina para cima; alternativamente realize a viragem dos ovos 2 - 4x/dia, do mesmo modo como é feito durante a incubação
  • Realize 1 ou mais tratamentos térmicos durante a estocagem, o que significa elevar a temperatura dos ovos uniformemente a pelo menos 32°C/90°F durante algumas horas

Ótima condição climática na sala de estoque de ovos

Temperatura

Se existe uma previsão de estocagem dos ovos maior que o normal, é essencial reduzir a temperatura na sala de ovos (veja Tabela 1 com as recomendações) do incubatório para um nível mais baixo do que o usualmente necessário para restringir o avanço do desenvolvimento embrionário. (Veja também aqui).

Uma temperatura mais baixa não somente reduz a taxa de afinamento do albúmen, assim preservando a sua qualidade interna; como também reduz outros processos celulares metabólicos dentro do embrião, o que é crucial para a preservação da vitalidade do embrião durante a diapausa. Certifique-se de que os sensores usados para controlar a temperatura da sala de estoque de ovos e termômetros usados para verificar o ambiente são confiáveis e recentemente calibrados.

Garanta que a temperatura na sala de estoque de ovos é mantida uniforme através de uma mínima recirculação de ar e não posicione os carros de incubação diretamente contra a parede; mantenha um espaço de aproximadamente 10 cm. Também evite posicionar os ovos diretamente no fluxo de ar dos resfriadores e umidificadores. Obviamente essa medida poderá ser difícil de ser executada em uma sala que está carregada acima da sua capacidade normal. Uma opção então é utilizar a “salas livres” como salas provisórias de estocagem de ovos, através da instalação de resfriadores nesses ambientes, ou considerar a locação de um trailer refrigerado para armazenar os ovos.

Um risco potencial das temperaturas mais baixas é o de “suar” os ovos (condensação de água na superfície da casca do ovo) quando os ovos frios são transportados para um ambiente sem resfriamento, com temperatura mais elevada do que a utilizada na sala de ovos, ou para onde a temperatura média programada é de 25°C/77°F. A água pode atuar como um meio de transporte pelo qual as bactérias presentes na casca do ovo podem entrar através dos poros, o que poderá gerar os ovos “bombas” mais tarde durante a incubação. Você pode ajudar a prevenir isso através de um aquecimento gradual dos ovos antes de levá-los para a sala de incubação (se vocês têm uma sala disponível com uma temperatura intermediária), e/ou também mantendo a umidade relativa mais baixa na sala de incubação. Para mais informações veja aquiSe essas medidas são impossíveis diante das atuais circunstâncias, considere então realizar a nebulização dos ovos com uma solução desinfetante – é melhor ter os ovos molhados por um desinfetante do que pela água da condensação!

A medida acima citada não significa automaticamente que a temperatura da sala de estocagem dos ovos nas granjas deva ser reduzida da mesma forma. É necessário evitar a redução muito rápida da temperatura dos ovos incubáveis após a postura, já que isso pode causar a parada do desenvolvimento embrionário antes que o estágio resistente à estocagem seja atingido. Além disso, durante o carregamento do caminhão de transporte ocorrerá um aumento do risco de condensação se o ovo estocado na granja de matriz estiver muito frio. Quando os ovos não são estocados na granja por mais do que 3-4 dias, a temperatura de 18–21°C/64.4–69.8°F está adequada. Já quando existe a previsão de se manter os ovos na granja por mais tempo, o mais indicado é programar a temperatura de estocagem máxima de 18°C/64.4°F. Caso isso não seja possível, considere então aumentar a frequência do transporte dos ovos incubáveis das granjas de matrizes para o incubatório. Mais informações aqui .

Umidade Relativa

Para evitar a desidratação dos ovos, é aconselhável manter a umidade relativa na sala de estoque de ovos acima de 75%. Contudo para evitar o crescimento de fungos, a umidade relativa não deve exceder os 85%. Atente que os ovos posicionados perto dos umidificadores não podem ficar molhados! Quando no passado foi preconizada a utilização de sacos plásticos para gerar o incremento de umidade e CO2, e assim minimizar a desidratação e manter a qualidade interna do ovo, não foi considerado que é muito alto o risco de causar condensação e crescimento de fungos.

Duração do Estoque
(dias)
Temperatura
(°C/°F)
Umidade
(%)
Orientação do ovo
0 – 3 18 – 21 / 64.4 – 69.8 75 – 85 Extremidade sem ponta
4 – 7 15 – 17 / 59.0 – 62.8 75 – 85 Extremidade sem ponta
8 – 10 12 – 14 / 53.6 – 57.2 80 – 85 Extremidade sem ponta
> 10 12 – 14 / 53.6 – 57.2 80 – 85 Extremidade pontiaguda para cima ou virando 2 (4-6) x por dia

Table 1: Condições de ambiente recomendadas durante a estocagem dos ovos

Posição do ovo ou viragem do ovo

Mesmo sob circunstâncias normais, se é previsto um estoque de ovos acima de 10 dias, é recomendável posicionar os ovos com a ponta fina para cima (Elibol, 2008), desde o primeiro dia de estocagem no incubatório. Atente que os ovos não devem ser transportados nesta posição, já que a movimentação dos ovos invertidos pode comprometer a câmara de ar. Esta forma de estocagem somente se torna prática quando os ovos estão armazenados em bandejas de papelão dentro de caixas de papelão. Uma vez que os ovos já foram classificados e posicionados nas bandejas de incubação, realizar a inversão da posição manualmente de todos os ovos, com a ponta fina para cima e depois voltar a posicionar a ponta fina para baixo novamente para realizar a incubação, é de fato muito trabalhoso e também cria o risco de causar micro trincas na casca dos ovos. Se os ovos já estiverem prontos nas bandejas de incubação, uma excelente alternativa é a de realizar a viragem de 900, duas ou ainda melhor 4-6 vezes por dia. Elibol (2002) relatou que a viragem dos ovos 4 vezes por dia durante 14 dias de estocagem foi benéfica, especialmente para os lotes mais velhos.

A principal razão para o efeito positivo da estocagem dos ovos com a ponta fina para cima ou realização da viragem durante a estocagem é que esses procedimentos garantem que o embrião estará sempre coberto por uma fina camada de albúmen. Isso evitará que o embrião entre em contato direto com a fina membrana da casca que existe na câmara de ar; caso isso ocorra, o embrião está sujeito a sofrer desidratação. Quando o ovo é estocado na posição normal, com a ponta fina para baixo, eventualmente o saco vitelino pode encostar na câmara de ar. O mecanismo é o seguinte: o saco vitelino é mentido no centro do ovo por duas estruturas conhecidas como chalaza; elas estão conectadas à membrana do saco vitelino em uma ponta e ao espesso albúmen na outra ponta. Como o albúmen gradualmente se torna menos denso durante a estocagem, a chalaza perde a capacidade de manter o saco vitelino no centro do ovo. Como o saco vitelino possui uma gravidade específica mais baixa do que o albúmen, o saco vitelino sobe e eventualmente pode entrar em contato com a câmara de ar quando os ovos são estocados com a ponta fina virada para baixo. De fato, devido às diferenças na gravidade específica o embrião sempre permanece no topo do saco vitelino – não importando a forma na qual o ovo foi posicionado na bandeja.

Tratamento térmico durante a estocagem do ovo

 

Submeter os ovos ao tratamento térmico durante ao longo armazenamento dos ovos pode reduzir consideravelmente o impacto negativo da estocagem dos ovos sobre a eclodibilidade (veja Figura 2), apesar dos resultados nunca serem tão bons quanto os obtidos com a incubação de ovos frescos. Outra vantagem do tratamento térmico é que a qualidade dos pintinhos produzidos (especialmente qualidade de umbigo) geralmente é muito melhor do que quando não é feito nenhum tratamento. O tempo de incubação também se torna muito mais próximo ao obtido com a incubação de ovos frescos. Esta forma de tratamento térmico é também frequentemente chamada de SPIDES, que é a sigla em inglês de ‘Short Periods of Incubation During Egg Storage’ (Curtos Períodos de Incubação Durante a Estocagem dos Ovos) ou ‘incubação prévia à estocagem’. O tratamento térmico dos ovos incubáveis durante a estocagem é uma prática usualmente realizada nos incubatórios GPS, onde o longo período de estocagem é frequente e inevitável, e também em alguns incubatórios de poedeiras.

Figure 2: Efeito de tratamento de SPIDES em ovos estocados durante 7, 14 ou 21 dias e comparados com os controles sem tratamento (Nicholson, 2013)

Atente que o tratamento térmico somente é possível quando os ovos incubáveis já estão distribuídos nas bandejas de incubação, e preferencialmente nos carros de incubação, do que nos carros de transporte das granjas, já que eles permitem um espaço suficiente entre os ovos para garantir um rápido e uniforme aquecimento e resfriamento. O procedimento para o tratamento térmico durante a estocagem envolve 3 etapas: Pré-Aquecimento, Aquecimento e Resfriamento.

Pré-Aquecimento: O objetivo é elevar a temperatura te todos os ovos, que estão armazenados em uma baixa temperatura, para obter uma uniforme temperatura interna; a recomendação é 25°C/77°F.  Este procedimento irá tornar tratamento térmico, na próxima etapa, muito mais uniforme.

Aquecimento: A meta é atingir uma temperatura de casca de pelo menos 32°C/90°F e uma máxima de 37.8°C/100°F. Os ovos devem permanecer sob esta temperatura por aproximadamente 3.5-5 horas (alguns autores sugerem 6 horas); o período exato depende fundamentalmente do estágio de desenvolvimento embrionário presente antes de iniciar o tratamento térmico (veja notas adicionais abaixo). Os ovos devem permanecer nesta temperatura por aproximadamente 3.5-5 horas, e o tempo em que a temperatura de casca de ovo ficará acima de 32°C/90°F pode ser monitorado utilizando data-loggers como Tiny Tags, mas também pode ser estimado pela seguinte regra de ouro: “quando a temperatura do ar tiver atingido 35°C/95°F, a temperatura de casca de ovo será de 32°C/90°F, e se manterá assim durante 30-60 minutos após o período de resfriamento ser programado”.

Resfriamento: A meta é na sequência resfriar os ovos para eles voltarem o mais rápido possível à temperatura da sala de estocagem de ovos, ou pelo menos abaixo de 25–27°C/77–81°F. Isso pode também ser feito fora da máquina, desde que haja suficiente fluxo de ar em uma adequada sala de resfriamento para que todos os ovos sejam resfriados uniformemente. É muito importante evitar o retorno imediato de uma carga de ovos aquecidos para a sala de estocagem de ovos, pois eles podem elevar a temperatura desse ambiente, causando flutuações de temperatura, o que pode comprometer os resultados de eclosão. Além disso, se não existe um bom fluxo de ar na sala de estocagem, os ovos do centro dos carros irão levar mais tempo para serem resfriados.

 

        

Notas adicionais sobre tratamento térmico

O primeiro tratamento térmico, também conhecido como incubação prévia à estocagem, é usualmente aplicado 3-4 dias após a postura. A vantagem disso é que ele pode ser feito após os ovos chegarem ao incubatório. O objetivo deste tratamento é levar os embriões dos ovos que foram resfriados muito rapidamente após a postura, para o estágio XII-XII resistente à estocagem. Se os ovos forem resfriados mais lentamente na granja e já apresentarem um desenvolvimento mais avançado, é melhor pular o primeiro tratamento ou manter por menos tempo o período de temperatura de casca de ovo acima de 32°C/90°F. A meta é evitar um avançado desenvolvimento embrionário e o alcance do “ponto sem retorno”, que é o momento quando ocorre o início da gastrulação. Esses ovos não poderão ser estocados por muito mais tempo, e uma alta mortalidade muito precoce irá ocorrer. Esse é o principal motivo pelo qual alguns trabalhos científicos têm reportado a incidência de tratamentos térmicos apresentando um impacto negativo. Apesar deste alerta, o método é bastante eficaz: inicie com tratamentos térmicos relativamente curtos, os quais não causarão muito aquecimento aos embriões, e uma vez comprovado o sucesso da metodologia, gradualmente procure aumentar o período de tratamento.

Tratamentos subsequentes podem ser repetidos a cada 5–6 dias. O Objetivo desses tratamentos é substituir as células que morreram e revitalizar as células que começaram a degenerar.

Máquinas para o tratamento térmico

Alguns fabricantes de incubadoras fornecem uma incubadora especialmente projetada com suficiente capacidade de aquecimento e resfriamento para esse tratamento, e que pode ser instalada próxima à sala de estocagem dos ovos. Contudo, é perfeitamente possível realizar um tratamento térmico em incubadoras de estágio único que estejam vazias. A tradicional incubadora de estágio múltiplo possui uma limitada capacidade de aquecimento e resfriamento por definição, e, portanto, não está apta para realizar esse tratamento, já que o tempo tanto de aquecimento como de resfriamento dos ovos iria se tornar muito longo. Apesar disso, é possível posicionar carros de incubação com ovos estocados no corredor de uma incubadora de estágio múltiplo que está realizando uma incubação regular. Haverá espaço para o tratamento de um número limitado de carros “a serem tratados”, o que torna esse método menos apropriado para uma aplicação rotineira de grandes volumes. Os nascedouros vazios também são menos apropriados para o tratamento térmico, devido a sua menor capacidade de aquecimento, mas pode valer a pena pensar na sua utilização como uma alternativa para realizar o resfriamento dos ovos.

Por que en algumas situações é melhor reduzir as perdas vendendo ovos incubáveis como ovos comerciais/industriais

Os procedimentos acima podem definitivamente ajudar a minimizar os efeitos negativos de um prolongado estoque de ovos, contudo os melhores resultados serão alcançados ainda com a incubação de ovos frescos. Se – quando o volume de ovos incubados voltar novamente ao da capacidade de produção da planta – o estoque de ovos ainda apresentar um volume significativo de ovos, é provável ser melhor tomar a dolorosa decisão de reduzir a estocagem através da venda de ovos para a indústria de alimentos, do que se submeter a uma produção com menor eclodibilidade e qualidade de pintos.

Pontos relevantes quando eventualmente for necessário incubar ovos com prolongado período de estacagem

Compensa buscar implementar procedimentos que ajudam a reduzir o impacto da prolongada estocagem dos ovos porque mais adiante esses ovos serão incubados. Pontos chaves a considerar quando chegar o momento de incubar esses ovos:


• Previna a condensação na superfície dos ovos, realizando a troca de ambiente com uma gradual mudança de temperatura, levando os ovos primeiramente para uma sala com temperatura intermediária.
• Ovos estocados em ambientes com temperaturas mais baixas requerem um pré-aquecimento mais longo!
• Inicie a incubação mais cedo para ajustar a necessidade de maior tempo de incubação (1 hora a mais por dia de estoque), a menos que seja realizado o tratamento térmico durante a estocagem dos ovos.
• Considere aumentar a frequência da viragem durante a incubação para 4 vezes por hora. Elibol (2008) demonstrou que esse procedimento apresentou um efeito benéfico em ovos estocados durante 14 dias de lotes de matrizes mais velhas.
• Projete uma eclodiblidade mais baixa do que a normalmente obtida com a incubação de ovos frescos; será necessário incubar mais ovos para produzir o volume de pintinhos necessários para alojar no dia do nascimento.

 

Referencias

  • Elibol, O., S.D. Peak and J. Brake. 2002. Effect of flock age, length of egg storage and frequency of turning during egg storage on hatchability of broiler hatching eggs. Poultry Science 81:945-950
  • Elibol, 0. And J. Brake. 2008. Effect of egg position during three and fourteen days of storage and turning frequency during subsequent Incubation on hatchability of broiler hatching eggs. Poultry Science 87:1237-1241
  • Eyal-Giladi, H. and S. Kochav. 1976. From cleavage to primitive streak formation: A complementary normal table and a new look at first stage of the development of the chick. I. General morphology. Developmental Biology 49:321-337
  • Fasenko, G.M. 2007. Egg storage and the embryo. Poultry Science 86:1020-1024
  • Nicholson, D. 2013. New thoughts on egg storage to optimise hatchabilty. International Hatchery Practice Vol. 27 No. 6
  • Yassin, H., A.G.J. Velthuis, M. Boerjan, J. van Riel and R.B.M. Huinre. 2008. Field study on broiler egg hatchability. Poultry Science 87:2408-2417

Escrito por Gerd de Lange

Especialista Sênior em Aves

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